Técnica é menos invasiva que biópsia tradicional e utiliza tecnologia de microfluidos para detectar o biomarcador HER2
Um método que combina um chip com biossensores e tecnologia de microfluidos pode ser uma alternativa de baixo custo para medir em amostras de sangue os níveis da proteína HER2, usada como marcador de câncer de mama. Segundo os pesquisadores Colleen Krause e James Rusling, respectivamente, das universidades de Hartford e de Connecticut (EUA), que desenvolveram essa técnica, ela é menos invasiva que a biópsia tradicional porque dispensa a coleta de tecidos feita com agulha, é mais barata e fornece o resultado em até 15 minutos.
O chip consiste de uma superfície plástica sobre a qual uma impressora de jato de tinta deposita finas camadas de tintas com nanopartículas para criar uma série de eletrodos. Em seguida, o chip impresso é revestido por anticorpos e aplicado sobre um dispositivo de microfluidos pré-fabricado, que possui minúsculos canais. O sangue do paciente é direcionado por esses canais e os anticorpos “capturam” e “imobilizam” a HER2 presente na amostra. A intensidade do sinal elétrico emitido pelo dispositivo está relacionada à quantidade de proteína encontrada. Níveis acima do normal indicam a existência de um tipo específico de câncer de mama.
“À medida que os biossensores continuam a progredir, é importante ter em mente que a utilidade das ferramentas de diagnóstico está relacionada à sua precisão. Esse biossensor funciona na faixa clinicamente relevante e possui um dos menores limites de detecção relatados de HER2. Portanto, irão ocorrer menos falsos-positivos e menos falsos-negativos”, explica Seila Selimovic, PhD e diretora do programa Biossensores e Detectores Fisiológicos do National Institute of Biomedical Imaging and Bioengineering (NIBIB), dos EUA, que financiou a pesquisa.
Segundo a coautora do estudo Colleen Krause, o próximo passo é reduzir o tamanho do dispositivo e usar placas de circuito impresso para construir uma unidade portátil tão pequena que caiba na palma da mão. “O biossensor é versátil e pode ser modificado para identificar vários biomarcadores”, acrescenta a pesquisadora, que tem PhD em Química e é professora assistente em Hartford.
O estudo foi publicado no periódico Biosensors and Bioelectronics.
Prognóstico e resposta à terapia
HER2 é a abreviatura de Human Epidermal growth factor Receptor-type 2 — receptor do fator de crescimento epidérmico humano tipo 2 — proteína validada para o prognóstico e também para prever a resposta à terapia alvo.
Em níveis normais, a HER2 — produzida pelo gene do mesmo nome — é importante para o crescimento e desenvolvimento de células epiteliais, que formam o revestimento interno e externo do organismo e do tecido glandular. Um erro ou mutação no gene pode provocar o desenvolvimento do câncer.
Maior incidência no país
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), entre os diversos tipos que afetam a população feminina no Brasil, o câncer de mama é o que apresenta a maior incidência. Para cada ano do biênio 2018-2019, estimam-se 59,7 mil novos casos da doença — 29,5% do total de tipos de câncer —, com risco estimado de 56,33 casos a cada 100 mil mulheres. Esse quadro se agrava porque, geralmente, o diagnóstico é obtido em uma fase avançada da doença, o que diminui as chances de cura.
Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais frequente na população feminina das Regiões Sul (73,07/100 mil), Sudeste (69,50/100 mil), Centro-Oeste (51,96/100 mil) e Nordeste (40,36/100 mil). Na Região Norte, é o segundo tumor mais incidente (19,21/100 mil), atrás apenas do câncer de colo do útero.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de mama é o tipo mais comum em mulheres em todo o mundo. A doença é responsável por 2,1 milhões de novos casos todos os anos. Estima-se que, somente em 2018, ela provocou 627 mil mortes na população feminina, o que corresponde a 15% de todos os óbitos por câncer em mulheres.