A biomédica e aluna de doutorado da Escola Superior do Instituto Butantan (ESIB) pelo Programa Interunidades em Biotecnologia Giovanna de Brito Carneiro foi uma das ganhadoras do prêmio Robert Austrian Award in Pneumococcal Vaccinology 2024 pela pesquisa de uma vacina contra o pneumococo, realizada no Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan. A homenagem é oferecida pela Sociedade Internacional de Pneumonia e Doenças Pneumocócicas (ISPPD, na sigla em inglês) aos melhores projetos relacionados ao tema em cada região do mundo.
“Essa premiação tem como propósito destacar e estimular a pesquisa para o desenvolvimento de novas vacinas contra pneumococo, que sejam eficazes, acessíveis e de ampla cobertura. Fiquei muito feliz pelo reconhecimento do trabalho e espero que o prêmio abra portas para ampliar o projeto. É muito legal participar desse legado do laboratório, que foi premiado outras vezes”, disse Giovanna, aluna de doutorado do Programa de Pós-graduação Interunidades em Biotecnologia (PPIB), uma parceria da Universidade de São Paulo (USP) com o Butantan e com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
O estudo CyaA vector carrying fragments of the PspA antigen: towards the development of a broad-coverage pneumococcal vaccine realizado sob orientação da pesquisadora científica do Instituto Butantan Maria Leonor Sarno de Oliveira, é feito em parceria com pesquisador Daniel Ladant, chefe de Bioquímica de Interações Macromoleculares do Instituto Pasteur de Paris. Nele, foi construído um vetor vacinal baseado em uma toxina da bactéria Bordetella pertussis para entrega do antígeno PspA de pneumococo para o sistema imune. Giovanna construiu as moléculas entre 2022 e 2023 no instituto da capital francesa.
“A Giovanna é uma excelente aluna e eu fiquei feliz por ela e pela colaboração do grupo como um todo, um resultado de uma colaboração internacional que deu muito certo”, afirma a orientadora Maria Leonor, vencedora do mesmo prêmio em 2010.
Os demais ganhadores da láurea pelo Butantan foram a bióloga Daniela Mulari Ferreira, em 2008, a bióloga Cintia Fiuza Marques Vadesilho, em 2014, e o farmacêutico Tasson da Costa Rodrigues, em 2022, por estudos realizados no Laboratório de Bacteriologia sob orientação da pesquisadora científica Eliane Miyaji, que trabalha junto com Maria Leonor.
Importância da vacina
Apesar de existirem mais de 100 sorotipos de pneumococo (a bactéria que causa pneumonia, meningite e otite, entre outras enfermidades), as vacinas disponíveis protegem contra até 20 sorotipos. O trabalho de Giovanna e dos outros pesquisadores do laboratório que estudam novas possíveis vacinas contra a bactéria visa oferecer outros imunizantes que confiram proteção independente de sorotipos.
“As vacinas que existem protegem contra a colonização nasal e, com isso, conseguem reduzir a circulação destas cepas, mas abrem margem para os outros sorotipos não cobertos circularem mais e causarem doenças. É inviável economicamente conceber uma vacina contra 100 sorotipos, por isso a necessidade de vacinas alternativas, que possam ser aplicadas em idosos ou de forma combinada com as que já existem no mercado para completar a imunidade contra esse patógeno”, esclarece Giovanna.
A equipe de pesquisadores do Laboratório de Bacteriologia do Butantan tem testado antígenos proteicos, dentre os quais a Proteína A da superfície do pneumococo (PspA), com resultados promissores.
“Trabalhamos para oferecer alternativas, vacinas de alta cobertura. Todos os estudos premiados anteriormente são com esse objetivo, e muitas vezes os nossos projetos usam as mesmas proteínas, o que muda são as diversas formas de apresentação”, esclarece a orientadora.
A pesquisa de doutorado de Giovanna é patrocinada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Fundação Butantan desde 2020. Com o prêmio, ela pretende trabalhar para aprimorar a formulação que se mostrou promissora.
“A vacina mostrou uma boa reatividade com isolados de pneumococo de diversos sorotipos, conferiu proteção em modelos de pneumonia e sepse em estudos não clínicos, e tudo isso foi apresentado para o prêmio. Com ele, pretendo fazer novas análises para complementar tanto o projeto quanto sua divulgação científica”, conclui Giovanna. Com informações do Instituto Butantan