CONECTANDO O UNIVERSO DAS ANÁLISES CLÍNICAS E INSTRUMENTAÇÃO ANALÍTICA

Diagnóstico precoce: qual a contribuição dos laboratórios?

Responsáveis pelos exames que norteiam 70% das tomadas de decisões clínicas, os laboratórios de diagnóstico assumem o papel de conscientizadores e facilitadores do acesso à saúde, contam com inteligência artificial, tecnologia de ponta e alta capacitação e investimentos em capital humano

Desde o início da vida, com o teste do pezinho, o laboratório já está rastreando possíveis anomalias para uma intervenção precoce

Por Milena Tutumi

Se cifras na ordem de milhões de reais poderiam ser economizadas no sistema de saúde com o diagnóstico precoce, como comenta a médica patologista e Presidente Regional Mato Grosso da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Natasha Slhessarenko, como tem sido a atuação dos laboratórios de diagnóstico na questão e como suas ações têm impactado nesse ecossistema?

Desde o início da vida, com o teste do pezinho, o laboratório já está rastreando possíveis anomalias para uma intervenção precoce. Responsáveis pelos exames que norteiam 70% das tomadas de decisões clínicas, os laboratórios de diagnóstico assumem o papel de conscientizadores e facilitadores do acesso à saúde, contam com inteligência artificial, tecnologia de ponta e alta capacitação e investimentos em capital humano.

“O impacto de um diagnóstico tardio não é para o laboratório, é para o indivíduo que está recebendo esses resultados, para a sociedade. A função do laboratório é disponibilizar e conscientizar”, resume o médico Rafael Jácomo, Diretor Técnico do Grupo Sabin. O Gerente de Operações Estratégicas no Diagnósticos do Brasil, Fábio Augusto Kurscheidt, pontua que do laboratório exige-se rapidez na liberação dos resultados, especialmente para detectar os grandes inimigos da saúde pública da atualidade: as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

Fábio Augusto Kurscheidt, Gerente de Operações Estratégicas no Diagnósticos do Brasil

“As DCNT têm gerado elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida e ocasionado impactos econômicos negativos para indivíduos, famílias e a sociedade em geral, tanto pela alta prevalência como pela rapidez com que adquiriram destaque como principais causas de morte no mundo”, destaca Kurscheidt. A sobrecarga do sistema de saúde pelo diagnóstico tardio resulta a altos custos à saúde suplementar, internações, medicações etc.  Dentro desse grupo de doenças, estão cânceres, diabetes e as doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas.

Para a Dra. Natasha  Slhessarenko, chama também cada vez mais atenção, a obesidade, o que faz do acompanhamento ao paciente obeso ser extremamente urgente porque ele é um paciente de risco para todas as doenças crônicas não transmissíveis. “O diagnóstico precoce a essas doenças faz com que se tomem medidas de tratamento e prevenção que, obviamente, leva a uma melhor qualidade de vida do paciente”.

Os exames iniciais

De modo geral, a médica explica que pela patologia clínica, o rastreio inicia-se com o hemograma, que permite a avaliação da série vermelha, da série branca e da série plaquetária: “A presença de anemia na série vermelha leva o médico a pensar em várias hipóteses diagnósticas, desde uma carência de ferro a um possível câncer. A avaliação da série branca é importante para afastar ou confirmar a presença de infecções ou uma eventual leucopenia”.

Natasha Slhessarenko, Presidente Regional Mato Grosso da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial

A recomendação da Dra. Slhessarenko inclui avaliação da função renal com a dosagem da ureia e creatinina; função do fígado, pela dosagem do TAP – Tempo de Atividade da Protrombina -, que avalia alguns fatores de coagulação da produção hepática; a dosagem da albumina e amônia. Outras ainda importantes: ALT e AST, para avaliar a integridade hepatocelular; e dosagem do perfil lipídico, glicemia e hemoglobina glicada.

O Gerente do DB, reforça que a detecção precoce das doenças tem uma importância primordial para a manutenção da saúde das pessoas: “Esse diagnóstico deve ser aplicado tanto a pessoas que apresentem sinais e sintomas iniciais e que sejam característicos de determinadas patologias, como também em uma população tida como saudável e assintomática, pois várias doenças são silenciosas, manifestando-se apenas quando estão em um nível mais grave”.

Em adição aos exames iniciais recomendados pela Presidente Regional da SBPC/ML, Kurscheidt se refere ao rastreamento como uma análise por meio de exames clínicos, laboratoriais e de imagem, fundamental para direcionar o tratamento ao qual o paciente deverá ser submetido. Cabe ao laboratório oferecer ferramentas para que o médico tome a melhor decisão terapêutica.

Os caminhos da genética

Há uma extensa gama de metodologias para o rastreamento de doenças. Na detecção de câncer, por exemplo, há complexos exames, mas também os mais acessíveis, como a mamografia. Rafael Jácomo, do Grupo Sabin, também cita: “Desde uma citologia vaginal a um exame com uma complexidade maior, como uma genotipagem de HPV para o câncer de colo uterino, ou outro bem simples, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes para câncer do colo, que nos últimos anos teve mudanças significativas, apresentando maior sensibilidade e diminuindo intercorrências pré-exame ao paciente”.

Jácomo comenta que hoje os laboratórios estão inseridos em uma realidade de exames genéticos que há 15 anos eram essencialmente utilizados em pesquisa. Para o médico, o valor desses exames está além da descoberta de uma alteração genética, pois pode-se fazer todo um trabalho de pesquisa e rastreamento dentro de uma família para encontrar possíveis soluções prévias.

Outro cenário futurístico, “mas nem tanto”, é o diagnóstico de câncer por amostra de sangue: “Envolve equipamentos de sequenciamento de última geração, mas também uma inteligência artificial para identificar padrões de risco. Esse é o caminho, não é uma realidade ainda em prática laboratorial, mas que está em estudo”, expõe Jácomo.

O laboratório no papel de conscientizador

Uma das principais forças dos laboratórios é difundir essas tecnologias para que os médicos possam usá-las a favor do paciente. “O DB enxerga como uma necessidade recorrente a atualização e capacitação de seus profissionais ao surgimento de novas metodologias, de modo a poder levar ao médico soluções e melhorias de diagnóstico preventivo, bem como no modus operandi do tratamento a ser efetuado”, diz o gerente. Um exemplo ocorre com o sequenciamento massivo de tumores, auxiliando o médico oncologista a mapear as vias gênicas que estão alteradas no tumor, subsidiando o desenho da terapia e definindo quais mutações sofrerão sensibilidade ou resistência ao tratamento.

O atendimento diferenciado no DB prevê o acompanhamento da visitação médica junto ao laboratório parceiro para orientar sobre a apresentação de exames diferenciados da biologia molecular ao médico, que, por sua vez, pode se manter atualizado e solicitar exames que poderão oferecer um diagnóstico mais direcionado e rápido, favorecendo a conduta clínica e o sucesso do tratamento.

A conscientização médica também faz parte das ações no Grupo Sabin desde o início das suas operações: “Discutimos sobre doenças diversas e metodologias novas que estão sendo implementadas”, menciona o Diretor Técnico. Uma equipe de profissionais altamente capacitada se esforça para trazer novas metodologias e colocá-las em rotina.

Campanhas impulsionam exames de rastreio

Rafael Jácomo, Diretor Técnico do Grupo Sabin

É preciso ainda ressaltar o desempenho dos laboratórios junto ao público. As diversas campanhas estabelecidas a cada ano, como Outubro Rosa e Novembro Azul, incentivam o diagnóstico precoce e ainda estimulam a realização de exames associados, como é observado no Grupo Sabin. Rafael Jácomo destaca que facilitar o acesso também é um grande diferencial, já que o exame tende a ter um preço menor.

Aumentar o acesso ao diagnóstico

Como citou Rafael Jácomo, do Sabin, facilitar o acesso da população é fundamental. Mas além dos valores dos exames, há outros fatores que podem fazer do diagnóstico precoce uma realidade mais próxima, como lista a médica patologista Natasha Slhessarenko: “Capilaridade, com unidades próximas das casas dos pacientes, atender a todos os planos de saúde, valores mais em conta para aqueles sem plano e exames com qualidade”.

O Grupo Sabin tem expandido suas operações a cidades longínquas do país permitindo o acesso a exames com a mesma qualidade e diversificação daqueles oferecidos nas regiões metropolitanas. “Além de interiorizar o acesso ao diagnóstico de alta qualidade, temos trabalhado em frentes como a atenção primária”, ressalta Jácomo. “Disponibilizamos o ferramental, o acesso e fazemos o cuidado direto, nos mantendo mais perto das pessoas”, completa.

Mesmo com o engajamento dos laboratórios, ainda há grandes desafios a serem enfrentados. O Gerente do DB, Kurscheidt, traz um dado sobre a cultura de saúde no Brasil: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os homens vivem 7,1 anos a menos do que as mulheres, sendo a taxa de mortalidade maior em praticamente todas as faixas etárias. Existem motivos evitáveis para o homem viver menos, mas entre os principais estão a maior exposição a alguns fatores de risco e a menor aderência aos exames preventivos.

Além disso, o Ministério da Saúde afirma que três em cada dez homens não têm o hábito de ir ao médico, sendo que mais da metade dos pacientes do sexo masculino só procura atendimento médico em casos de problemas de saúde avançados, resultando em um tratamento com mais dificuldades, mais longo e dependendo da doença, com menores chances de cura.

Essas informações atestam a opinião da Dra. Slhessarenk, que ainda enxerga a medicina preventiva em nível de atenção primária muito pouco explorada, e revelam o fato: “Infelizmente ainda temos no Brasil a cultura da medicina que trata. Todas as doenças, quando diagnosticadas precocemente, têm um curso muito mais eficaz”.

POSTS RELACIONADOS

APOIADORES PREMIUM

APOIADORES GOLD

MAIS LIDAS