Recentemente, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) emitiu um documento intitulado “10 Mitos e Verdades sobre os Exames Laboratoriais”. Neste documento, vários pontos nos chamam a atenção, dentre eles, podemos destacar os que afirmam que os resultados de exames laboratoriais apoiam cerca de 70% das decisões médicas”, mas o que mais clama por nossa prudência é “Diferentes fatores levam a maior utilização dos exames laboratoriais na prática clínica: envelhecimento da população (pacientes idosos realizam cerca de 3,5 vezes mais exames ao ano quando comparados a adultos jovens), maior prevalência de doenças crônicas (mudança epidemiológica), novas tecnologias disponíveis e advento da medicina preventiva. Existem variações no número de exames solicitados por médicos de diferentes regiões do país, o que se deve a características do setor e não representa desperdício de recursos”.
Na verdade, este autor entende que as mudanças que vem ocorrendo neste setor são muito mais profundas do que podemos perceber. Vemos redes de laboratórios clínicos adquirindo empresas menores numa gula sem precedentes. Em contrapartida, o setor sofre constantemente pressões das Operadoras de Saúde para redução nos custos dos valores cobrados, além do Ministério da Saúde que se recusa peremptoriamente há mais de 20 anos em reajustar a tabela SUS. Ora, se as fontes pagadoras pressionam para redução dos valores pagos, qual a lógica nesta ânsia por novas aquisições por parte dos maiores players do mercado?
Indubitavelmente, a resposta está nos principais pontos apresentados pela SBPC/ML. Não é segredo de ninguém que a qualificação dos médicos brasileiros vem caindo sobremaneira, em função da abertura de inúmeros novos cursos de medicina. Estes médicos, ao perderem a competência na propedêutica clínica, em particular na semiologia, buscam a compensação através da propedêutica armada, ou seja, exames de laboratório. O primeiro ponto apresentado pela SBPC/ML que afirma que “os resultados de exames laboratoriais apoiam cerca de 70% das decisões médicas”, corrobora esta afirmação. Destarte, se houvesse um aprimoramento na formação dos médicos brasileiros, estes números tenderiam a diminuir. Ocorre que não há, ao menos em médio prazo, vontade política por parte dos nossos legisladores e governantes em tal melhora, portanto, o uso da chamada Propedêutica Armada, só tenderá a crescer. Outro ponto de suma importância é o envelhecimento da nossa população, que busca auxílio médico em maior quantidade e, consequentemente, maior quantidade de serviços diagnósticos.
Mas como se manter no mercado frente a pressão das fontes pagadoras em redução no número de solicitações de exames? Este é um impasse de difícil solução, uma vez que os custos dos laboratórios crescem exponencialmente, ao passo que suas receitas não. A solução dos grandes laboratórios clínicos nacionais está clara: comprar a concorrência, aumentando o número de exames realizados e, consequentemente, sua capacidade de negociação com seus fornecedores, otimização de mão de obra, ocupação dos instrumentos analíticos, etc. Não podemos nos esquecer que estamos falando de mercado que movimenta R$ 25 bilhões ao ano, com um crescimento no mesmo período de, em média, 10%. Este jogo já está cristalino às grandes corporações. Entretanto, esta não é a realidade da grande massa de laboratórios clínicos nacionais, caracterizado por pequenas empresas familiares (para o Ministério da Saúde, são cerca de 21 mil SADTs em 2015 e quase 22 mil em 2016. Na RAIS, foram registrados aproximadamente 12 mil laboratórios clínicos e de anatomia patológica e citológica). Estas empresas estão, salvo equívoco, destinadas à perecerem frente as ameaças e imposições do mercado.
O segredo, aos olhos deste autor, é a gestão destas empresas, porém, a formação destes empresários é em sua imensa maioria formada por farmacêuticos bioquímicos, biomédicos e médicos e, com raras exceções sem qualquer formação na área administrativa. É nesta enorme massa em que este autor se enquadra. Na graduação, não tivemos sequer noções de administração e matemática financeira, gestão de pessoas, noções de políticas tributárias e controle de fluxo de caixa. Para nos mantermos no mercado, não basta mais apenas a busca incessante por aprimoramento técnico e qualidade nos exames. Isto já é condição sine qua non para todos. Agora nosso caminho é outro: profissionalizar a gestão dos laboratórios. Isto você pode fazer de várias formas: buscando aprofundar seus conhecimentos nestas áreas, contratando profissionais para gerirem as empresas ou então, contratando empresas de consultoria nesta área para assumir a gestão de sua empresa.
Um exemplo disto é o cálculo do custo real por teste, que a vasta maioria dos laboratórios não conseguem estimar. Quando muito, se baseiam no custo do reagente dividido pelo número testes realizáveis, já descontando os custos de calibração e controle.
Mas como cuidar da gestão da companhia, e ao mesmo tempo fazer as vezes de representante comercial, visitando clientes e potenciais clientes e responsável técnico do laboratório? Esta questão, cabe a cada um de nós resolver. Talvez, se as pequenas empresas do setor se unissem e conseguissem compartilhar suas gestões, através de uma Cooperativa ou Associação, um bom passo já seria dado. Uma coisa é certa: caso os pequenos e médios laboratórios clínicos não se reinventarem sucumbirão em um curto espaço de tempo.