Técnica CRISPR-Cas pode ser utilizada em estudos sobre agricultura, indústria, medicina e meio ambiente
No dia 18 de maio aconteceu o Simpósio USP Discute Impactos da nova técnica de edição de genomas CRISPR-Cas 9 na ciência e na sociedade, no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). Durante o evento, pesquisadores da USP apresentaram aplicações da técnica em estudos sobre agricultura, indústria, medicina e meio ambiente. Também foi divulgado o documento “Impactos da Nova Técnica de Edição de Genomas CRISPR-Cas 9 na Ciência e na Sociedade”, elaborado por cientistas da Universidade, que explica a utilização do método e recomenda uma maior utilização em pesquisas no Brasil.
O professor do ICB, Carlos Frederico Martins Menck, coordenador do evento, explica que CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) são elementos repetitivos encontrados no genoma de várias bactérias. CRISPR-Cas (proteínas associadas ao gene CRISPR) são endonucleases (um tipo de enzima, substância formada por proteínas) que reconhecem sequências emparelhadas com os RNAs codificados pelas repetições do CRISPR. “Basicamente, o CRISPR-Cas é um sistema de defesa de bactérias contra bacteriófagos (vírus). As repetições são um tipo de ‘memória genética’ de bacteriófagos”, conta. “Quando eles reinfectam a bactéria que contém esses elementos, com a memória apropriada, as nucleases Cas podem clivá-lo (dividi-lo), livrando a bactéria da infecção.”
O sistema CRISPR-Cas foi descoberto principalmente pelas cientistas Jennifer Doudna (Estados Unidos) e Emmanuelle Charpentier (França). “Ele foi adaptado de forma que pode ser direcionado a qualquer sequência de DNA, de modo que pode clivar sequência humana e, com isso, pode deletar um gene, mas também pode ativar o gene, modificá-lo, ou corrigi-lo”, ressalta Menck. “As formas de edição dos genomas (de qualquer organismo) são muitas e com um potencial quase ilimitado.” A técnica, de baixo custo e relativa simplicidade de execução, permite a edição de genomas de forma rápida e eficiente, e traz enorme potencial de impacto econômico em áreas como agricultura, pecuária, microbiologia e medicina.
No evento, foram apresentados diferentes desdobramentos e aplicações da tecnologia CRISPR-Cas, ora empregadas em diferentes laboratórios da USP, em estudos sobre carcinoma (tipo de câncer) de boca, Aedes aegypti (mosquito transmissor da dengue), agricultura e mudanças climáticas, entre outros. O documento explica como a técnica funciona e discute seu impacto sobre o futuro do uso da biologia molecular e as implicações para a sociedade. “A principal recomendação é que é preciso usar essa tecnologia no Brasil, e fazer muita pesquisa com ela”, destaca Menck. “É preciso que haja autonomia e capacidade para conhecer a tecnologia e usá-la para resolver os problemas do Brasil.” A integra do texto pode ser lida aqui. Com informações da USP