Por Octavio Fernandes
Patologista clínico e vice-presidente de operações do Labi Exames
Atualmente, o envelhecimento da população, o sedentarismo e os maus hábitos alimentares aumentaram muito as taxas de doenças como obesidade, hipertensão arterial e diabetes. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estima que uma a cada onze pessoas seja diabética, sendo que 25% delas sequer sabem que têm a doença. Em um cenário em que essas doenças crônicas são cada vez mais comuns, é importante manter em dia o cuidado com a saúde.
Na mesma tendência, doenças infecciosas, como a AIDS e a Hepatite C, seguem avançando, apesar dos progressos no tratamento. Isto ocorre de certa forma por um comodismo em relação às medidas de prevenção contra essas doenças antigamente letais, juntamente com o longo período em que elas permanecem adormecidas no organismo, detectáveis apenas por exames de sangue.
Por exemplo, em pesquisa recente do Datafolha encomendada pelas Sociedades Brasileiras de Hepatologia e de Infectologia, 60% dos portadores da Hepatite C não sabem que têm a doença. De forma semelhante, dados do Ministério da Saúde de novembro de 2016 afirmam que aproximadamente 13% dos portadores do HIV não sabem ser soropositivos. O que preocupa ainda mais em relação ao HIV é o seu aumento na população jovem. Segundo dados do Ministério da Saúde, os casos na faixa etária entre 15 e 19 anos quase triplicaram, enquanto o número de casos de 20 a 24 anos dobrou no período de 2006 a 2015.
Nesse contexto, os exames laboratoriais de rotina são essenciais para identificar tais doenças silenciosas, que não provocam sintomas por muito tempo e podem causar danos significativos até se tornarem perceptíveis para os portadores. Para evitá-las, uma simples agulhada pode poupar muita dor de cabeça. Porém, mais do que o medo, o que afasta as grandes massas dessa forma de diagnóstico é a dificuldade ao acesso.
A perda de empregos e a crise financeira derrubaram a cobertura dos planos de saúde privados, principalmente nas classes C e D. Com o desemprego atingindo 13,3% no primeiro trimestre de 2017, 1,4 milhão de vidas perderam seus benefícios ao longo de 2016. De olho nessa parcela da população, novos laboratórios passam a oferecer serviços de qualidade a preços populares. Surge uma nova opção para a parcela da população que está desamparada perante a precariedade do SUS e a inacessibilidade do sistema privado de saúde brasileiro.
O que ocorre é a tentativa de atender a um crescente nicho populacional que prefere não se sujeitar à realidade muitas vezes ineficiente do sistema público de saúde, mas que ao mesmo tempo não possui recursos suficientes para bancar os serviços particulares convencionais nesse ramo. Assim, a iniciativa privada surge no mercado com a lógica de abrir mão de super lucratividade buscando garantir o acesso universal à saúde.
Estes laboratórios empregam tecnologias semelhantes às encontradas nos grandes grupos que dominam o mercado, mas conseguem chegar a um preço final menor ao diminuir sua margem de lucro e usar economia de escala. Para eles, a alta demanda é a chave para manter a sua oferta e qualidade. No cenário atual, essa é uma saída viável tanto para os consumidores quanto para os empreendedores. Todos saem ganhando? Poderemos conferir o resultado em um futuro não tão distante.