A Itaipu Binacional, por meio do Programa Saúde na Fronteira, o Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP), do Hospital Ministro Costa Cavalcanti (HMCC), e o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Prefeitura de Foz do Iguaçu, inauguraram nesta semana o Centro de Medicina Tropical (CMT) da Tríplice Fronteira – a primeira estrutura do gênero da Região Sul do Brasil.
O centro é equipado com um avançado laboratório de biologia molecular, capaz de investigar todo o ciclo de doenças tropicais transmitidas por animais e insetos. Hoje, o Brasil conta com apenas outros dois centros com as mesmas características, no Rio de Janeiro e no Pará. Será possível, por exemplo, confirmar em menos de uma hora se mosquitos Aedes aegypti capturados pelo CCZ estão infectados com o vírus de doenças como a dengue, a zika e a febre chikungunya.
O CMT de Foz do Iguaçu terá ainda uma característica inédita no Brasil: é o único que poderá fazer exames em materiais genéticos tanto de animais como também de seres humanos.
A expectativa é que, no futuro, o novo centro preste serviços a outros municípios e hospitais e se transforme em polo de ensino, pesquisa e extensão, recebendo alunos e professores das universidades da região – como a Universidade Estadual Oeste do Paraná (Unioeste) e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
Investimentos
A Itaipu Binacional investiu R$ 2 milhões para reformar e equipar o prédio do CMT e possibilitar a operação do centro por dois anos. O laboratório conta com equipamentos de ponta, como uma câmara de fluxo laminar, para manipulação de amostras, e o QuantStudio 7, para diagnósticos. “Com este laboratório, estaremos fazendo procedimentos de proteção das pessoas, especialmente famílias que vivem em regiões mais carentes e expostas à ação deste mosquito (o Aedes aegypti) tão nocivo ao ser humano”, ressaltou Margaret Groff.
A diretora acrescentou que o centro será importante especialmente no verão, estação atual, época do ano em que o calor é intenso, com chuvas frequentes e maior proliferação do mosquito transmissor.
“Não estamos só apagando incêndio. Vamos eliminar o mosquito antes que ele infecte o ser humano”, salientou. “Estamos trabalhando para evitar que maiores problemas de saúde afetem a população e o sistema de saúde.”
Ainda segundo ela, a implantação do CMT posiciona a região como centro de referência nas áreas de pesquisas médicas e laboratoriais, potencializando o desenvolvimento e a capacitação dos profissionais do setor.
Para o diretor administrativo-financeiro e coordenador do Instituto de Ensino e Pesquisa do HMCC, Fernando Cossa, o centro é um avanço não só para a cidade e região, mas para todo o País. “Trabalharemos com tecnologia de ponta, que vai elevar o município iguaçuense para a vanguarda de ensino e pesquisa”, ressaltou.
Diagnóstico e prevenção
A rapidez no diagnóstico será a principal característica do novo centro. Ao identificar que mosquitos de determinada região da cidade estão infectados, a prefeitura poderá desencadear imediatamente ações de prevenção na área afetada, eliminando o mosquito antes da transmissão da doença. “Essa informação torna-se valiosíssima para a tomada de decisão e ação de controle de doenças no local específico. Isso torna a ação mais eficaz, porque ocorre no momento oportuno, favorecendo o controle efetivo das doenças”, disse o coordenador do CCZ, André Leandro.
Hoje, para saber se há focos de dengue em uma região, a pessoa precisa ser infectada pelo mosquito no local, apresentar os sintomas da doença (o que ocorre em até 15 dias após a transmissão) e procurar atendimento de saúde, que irá retirar uma amostra do sangue e encaminhar para o Laboratório Central (Lacen), de Curitiba.
Essa resposta do Lacen pode demorar outras duas semanas – tempo suficiente, entre a transmissão e a confirmação, para a proliferação da doença. “Quando o assunto é prevenção, quanto maior a velocidade [do diagnóstico], menor a chance de ter um ser humano contaminado”, disse o responsável técnico pelo laboratório, o biólogo Robson Delai. Ele comentou que o laboratório também tem capacidade para identificar outras doenças, como raiva e leishmaniose.
O biólogo explicou que, nos primeiros 20 dias, a equipe de profissionais do setor vai passar por treinamento e padronização de procedimentos, utilizando amostras encaminhadas pelo próprio CCZ. Em seguida, o laboratório passará a funcionar de forma efetiva. A capacidade de análise será de 5 mil amostras por ano.